O inverno, para quem não tem
exatamente um inverno que nem no Nordeste, se caracteriza, para mim, por
nuances muito típicas. Tem seus cheiros próprios, suas sombras, trejeitos e
sabores, carregados carinhosamente na memória. Meu inverno tinha jeito de água
da chuva carregando a havaiana quebrada que tinha colocado pra não molhar o
tênis do colégio. Tem o cheiro doce de cajá madura caindo do pé junto com a
chuva. Tem sombra de manguezal carregado, com a água escorrendo por entre os
dedos dos pés naquele fino riacho que só existe quando a chuva cai no dia
anterior. Tem manga caindo na nossa cabeça desavisada, saborosa, molhada,
pedindo pra ser devorada sem pudores sociais. Inverno tem gosto de alho torrado
na manteiga da terra, quentinho como o bálsamo feito do óleo dessa fritura que
a mãe passava na minha garganta quando tossia demais de noite. Tem sabor,
principalmente, de uma grande xícara de leite escuro, feito com açúcar queimado
e salpicado de canela. Meu inverno é pura sensação de um tempo bom e belo com sabor
de infância feliz.
Fortaleza, carnaval de 2012.
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