Cura

Eu:

já me desfiz demais

Já me despi demais

Já me doei demais

Fugi.

E longe refaço meus cacos

Reconstruindo os cascos

Os pelos e os dentes e as garras.

Nua.

Amada? Por ela,

A que canta

A que uiva

La Que Sabe.

Um dia fomos Deusas

Alquebradas, marcadas, sofridas,

restamos

Sem identidade, sem rumo ou apelo

Amarguradas

Voltadas a um mundo que não é nosso mundo interno

(Tão fértil e tão certo!)

Tememos os sons, mas os buscamos em frensi de Ser

Queremos nos encontrar com algo

Que não esta lá.

Massacradas, doloridas, sorridentes,

Bebemos

Rimos, dançamos e em nosso coito vazio

Permanecemos

Esquecidas

De que já fomos Deusas.

O Sonho

Sonhei

Em meu sonho ele vinha a mim

E me trazia flores para os cabelos

E andávamos juntos, pele a queimar sob o sol causticante com a brisa suave a levar embora nossos temores.

De meu sonho acordei em meio a tremores e gritei seu nome por três vezes

Manawe!

O que você me trouxe

O que você me deu não pode ser medido

Contabilizado

Pesado

Embrulhado em papel de seda. Não.

O que você me trouxe, assim sem pretensões

Arrancou um adaga envenenada do meu peito

Bálsamo eficaz, aplicado por mãos carinhosas

O que eu recebi de ti, não foi um beijo

Não foi pão ou bebida

Nem a noite de amor que eu tanto queria.

O que você me trouxe foi a esperança perdida.